Rodada 1.
Contribuição: Lorena Gabriela Rocha Ribeiro (Universidade Federal de Sergipe, Aracaju/SE)
Cão, 5 anos de idade.
- Tecido/órgão: Testículo
- Quais lesões secundárias podem ocorrer em consequência deste processo? Explique a patogenia. Degeneração testicular, granuloma espermático, edema escrotal. A inflamação testicular pode estar associada a estes dois processos, o primeiro em consequência do aumento da temperatura e o segundo em decorrência da obstrução dos túbulos, com aumento da pressão e ruptura, com liberação de espermatozoides. O edema escrotal pode ocorrer devido aumento na quantidade de fluido associado à albugínea testicular com as alterações hemodinâmicas associadas.
- Cite as principais causas/agentes etiológicos que podem estar associados com a lesão observada, nessa espécie: Brucella canis, Escherichia coli e Proteus spp.
- Qual(is) alteração(ões) hemodinâmica(s) ocorre(m) neste quadro e por quê? Hiperemia e edema, associados com aumento da pressão hidrostática devido hiperemia ativa relacionada com inflamação.
- As células predominantes associadas com a alteração indicam qual tipo específico de processo patológico: Processo inflamatório crônico, supurativo/piogranulomatoso
Rodada 2.
Contribuição: Daniela Bernadete Rozza (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Unesp, Araçatuba/SP)
Bovino, 1 mês de idade.
- Descrição da lesão macroscópica, informando órgão(s): Rins com áreas amareladas a esbranquiçadas, irregulares, multifocais
- Explique a patogenia do quadro. Em situações de endocardites bacterianas, pneumonias bacterianas, meningites bacterianas, flebites bacterianas, etc. No caso em questão, dada idade do animal, e´necessário verificar eventual relação com onfalite. Bactérias migram por via hematógena, com embolização causando as alterações uma vez que tem acesso e se instalam no tecido renal
- Cite as principais causas/agentes etiológicos que podem estar associados com a lesão observada, nessa espécie: Truperella pyogenes, Staphylococcus spp., Streptococcus spp. e Escherichia coli
- Qual(is) alteração(ões) hemodinâmica(s) ocorre(m) neste quadro e por quê? Embolia - migração bacteriana por via hematógena; hiperemia ativa - processo inflamatório consequente da infecção bacteriana; edema - aumento de pressão hidrostática local; eventual hemorragia, dado processo de supuração e heterólise local
- Diagnóstico: Nefrite/glomerulonefrite embólica supurativa
Rodada 3.
Contribuição: Juliana da Silva Leite (Universidade Federal Fluminense - UFF, Niteroi/RJ)
Cão, 3 anos de idade.
- Descrição microscópica, informando órgão(s): Mucosa/transição mucosa-pele. Erosão, acantose leve e paraqueratose. Na derme superficial e profunda, havia infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear, difuso, composto por macrófagos, plasmócitos, linfócitos e neutrófilos. Formas amastigotas são observadas dentro e fora dos macrófagos.
- Diagnóstico morfológico. Processo inflamatório crônico granulomatoso (Processo linfohistioplasmocitário focalmente extenso, crônico, associado com microorganismos intracitoplasmáticos em fagócitos compatíveis com Leishmania spp).
- Cite o(s) principal(is) agente(s) etiológico(s) que podem estar associados com o diagnóstico morfológico observado, nessa espécie: Leishmania spp., Histoplasmaspp. Em casos de ausência de observação dos micro-organismos, outros diferenciais podem ser considerados, como infecção por Mycobacterium spp.
- Qual(is) eventual(is) coloração(ões) histoquímica(s) é (são) útil(eis) para auxiliar na confirmação diagnóstica? E de que forma elas auxiliam/qual seu perfil de coloração? A coloração Giemsa revela formas amastigotas em azul purpúreo no citoplasma de macrófagos. A coloração prata metanamina de Grocott e a coloração PAS (periodic–acid Schiff - ácido periódico de Schiff) podem ser usadas para descartar a etiologia fúngica. O uso da coloração Ziehl–Neelsen identifica bacilos álcool-ácido-resitentes no interior dos macrófagos e pode colaborar especialmente nos casos onde não são observadas formas amastigotas ou em quantidade mínima, podendo ser usada para descartar micobacteriose.
- Diagnóstico: Leishmaniose
Rodada 4.
Contribuição: Francisco de Assis Leite Souza (Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, Recife/PE)
Cão, 11 meses de idade.
- Descrição da lesão microscópica, informando órgão(s) e diagnóstico: Pele pilosa com acantose moderada e derme superficial e profunda apresentando áreas com material amorfo basofílico granular e fragmentado, multifocal a coalescente, compatível com áreas de mineralização. Observa-se infiltrado inflamatório crônico histiocitário, com presença acentuada de macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas. Visualiza-se, ainda, fibrose multifocal e fibroplasia. Diagnóstico: Calcinose cutâneo (Calcinose cutis).
- Explique a patogenia do quadro: A mineralização corresponde à deposição de sais minerais inorgânicos insolúveis na derme, epiderme ou subcutâneo e podem ocorrer por processos
distróficos ou metastáticos, a calcificação distrófica é secundária ao dano mitocondrial e a liberação de cálcio armazenado na mitocôndria levando a um aumento dos níveis intracelulares de cálcio, que após a destruição celular se depositam no meio extracelular atraídos pela matriz orgânica se associando as fibras de colágeno e elastina. Geralmente os processos de calcificação distrófica ocorrem em áreas de atrito como pescoço, flanco e orelhas. A calcificação metastática surge de hipercalcemia (elevação dos níveis séricos de sangue) que acaba se depositando em locais do organismo mesmo sem lesões prévias. - Cite as principais causas que podem estar associadas com a lesão observada, nessa espécie: Hiperadrenocorticismo, iatrogênico ou espontâneo, por adenoma de hipófise secretor de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), adenoma funcional do córtex da adrenal. Pode ser observado, também, como resposta secundária à pontos de pressão e injeções subcutâneas de material reativo.
- Qual(is) componente(s) inflamatório(s) é (são) esperado(s) nesse quadro e por quê? Infiltrado inflamatório predominantemente de macrófagos, macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas do tipo corpo estranho. Essas células estão presentes nesse caso por se tratar se uma reação crônica granulomatosa do tipo corpo estranho em resposta ao mineral depositado.
- Qual(is) eventual(is) coloração (ões) histoquímica(s) é (são) útil(eis)para auxiliar na confirmação diagnóstica? Von Kossa: para corar cálcio, sais de prata são reduzidos para prata metálica negra pelo uso de luz ou de um revelador fotográfico, obtendo-se, no final, os sais de cálcio de cor preta; Vermelho de alizarina: áreas calcificadas coradas em vermelho, interação com osteoblastos em diferenciação, com formação de um complexo alizarina-cálcio-alumínio que permite a formação da coloração.
Rodada 5.
Contribuição: Gabriel Domingos Carvalho (Instituto Federal do Espírito Santo - IFES, Piúma/ES)
Tartaruga verde (Chelonia mydas), juvenil.
- Descrição da lesão macroscópica, informando regiões do mesmo: Esôfago - perda de papilas mucosas cornificadas associadas com áreas hiperêmicas circulares, hemorragia e ulcerações multifocais; região gastroesofágica com áreas multifocais a coalescentes hiperêmicas, hemorragia multifocal e ulceração focalmente extensa a multifocal, brilhate (edemaciado).
- Qual(is) alteração(ões) hemodinâmica(s) observada(s) neste quadro e por quê? Hiperemia discreta difusa da porção final do esôfago em resposta ao processo inflamatório da lesão caseosa e presença de ovos de helmintos.
- Qual o tipo de agente causal associado apresentando (especificando filo e classe): Neste caso, é possível identificar parasitas do filo Plathyhelmintes, pertencentes à classe Trematoda (Digenea). Por curiosidade, na análise do conteúdo fecal foi caracterizada a espécie Poliangium linguatula.
- Qual(is) característica(s) microscópica(s) permite(m) tal determinação? Helminto com corpo chato, não segmentado, presença de estruturas de fixação/ventosa e espículas.
- Diagnóstico: Gastrite hemorrágica multifocal associada com presença de parasitas helmintos da classe Trematoda.
Rodada 6.
Contribuição: Ana Carolina Ortegal (Universidade José do Rosário Vellano - Unifenas, Alfenas/MG)
Cão, 8 anos de idade
- Descrição da lesão macroscópica, informando órgão e diagnóstico: Baço: Avaliação histopatológica de baço revela hiperplasia difusa e coalescente de polpa branca. Há aumento da celularidade na polpa vermelha, principalmente por histiocitose acentuada associada a discreta plasmocitose. Os histiócitos frequentemente estão repletos de hemossiderina (hemossiderose) e é possível observar eritrofagocitose. Observa-se hematopoiese extramedular discreta a moderada, principalmente da linhagem eritropoiética, mas também há células da linhagem megacariocítica (raras) e mieloide, em especial precursores de neutrófilos. Diagnóstico: Hemólise extravascular; Hemossiderose; Hematopoiese extramedular.
- Explique a patogenia do quadro. O animal apresenta algum quadro que desencadeia eritrofagocitose acentuada (hemólise extramedular) e devido à acentuada destruição de hemácias há consequente hemossiderose esplênica. Devido à hemólise, o animal pode desenvolver um quadro de anemia e, portanto, há tendência em ocorrer acentuada eritropoiese medular, mas também certo grau de hematopoiese extramedular, sendo o baço o principal sítio. A hemossiderose acentuada normalmente está associada a hemólise subaguda ou crônica.
- Cite as principais causas que podem estar associadas com a lesão observada, nessa espécie: A hemólise pode ocorrer de forma intra e extravascular. Neste caso observamos hemólise extravascular, evidenciada pela eritrofagocitose. Doenças que cursam com hemólise extravascular no cão podem ter etiologia infecciosa e não infecciosa. Dentre as causas de hemólise extravascular infecciosa mais frequentes se pode citar Babesiose (que também cursa com hemólise intravascular – a hemólise extravascular observada na Babesiose canina provavelmente é imunomediada) – Babesia canis; Babesia gibsoni; Rangeliose (principalmente no Sul do Brasil) – Rangelia vitalli; dentre as causas não infecciosas, a principal causa de anemia hemolítica extravascular é a imunomediada, que muitas vezes é idiopática mas que pode ocorrer de forma secundária a alguns agentes infecciosos (como no caso da Babesiose e em alguns relatos de Erliquiose, apesar de geralmente raro) e também ao contato com alguns fármacos. Outra condição que pode apresentar achados semelhantes seria o Hiperesplenismo, no qual ocorre metaplasia mieloide e histiocitose com eritrofagocitose e por fim formação de hemossiderina, levando a anemia por “sequestro”.
- Qual(is) eventual(is) coloração (ões) histoquímica(s) é (são) útil (eis) para auxiliar na avaliação diagnostica de alterações observadas nesta amostra? Informe sua base química de interação/afinidade: Para evidenciar a hemossiderina, a Coloração/Técnica/Reação de Perls ou Reação de Azul da Prússia. Esta técnica se baseia na utilização de uma solução ácida a base de ácido clorídrico e ferrocianeto de potássio que, ao ter contato com o ferro trivalente, forma o ferrocianeto férrico, de coloração azul escuro (azul da prússia). A contracoloração com Safranina permite a visualização dos núcleos em vermelho. Em caso de suspeita de Babesiose, as colorações de Azul de Toluidina e Azul de Metileno permitem a boa visualização da Babesia spp. no interior dos eritrócitos. O Azul de Toluidina cora os eritrócitos em amarelo-esverdeado e e os protozoários em azul escuro. O Azul de Metileno cora as hemácias em azul-esverdeado e deixa os parasitas em coloração azul escuro.
- Qual(is) o(s) principal(is) diferencial(is) microscópico? Quais características microscópicas podem auxiliar na diferenciação e quais técnica(s) pode(m) auxiliar na diferenciação? Para técnica(s), explique seu mecanismo e como permite a diferenciação: A hemossiderina pode ser “confundida” com outros pigmentos amarronzados, como por exemplo a melanina. Isso coloca a metástase de melanoma como um possível diagnóstico diferencial (ao levar em consideração somente o pigmento amarronzado). Portanto, a reação de Azul da Prússia (explicada acima) neste caso auxilia no diagnóstico definitivo da condição de hemossiderose. Técnicas de imuno-histoquímica podem auxiliar na identificação de possíveis agentes infecciosos e de células no baço, como por exemplo as células da linhagem histiocítica e células precursoras mieloides. Uma causa neoplásica que cursa com eritrofagocitose (hemólise) e pode apresentar hemossiderose é o Sarcoma Histiocítico Hemofagocítico. Nota-se, porém que os histiócitos são neoplásicos e células multinucleadas e vários critérios de malignidade normalmente são apresentados. A imuno-histoquímica é excelente ferramenta no diagnóstico definitivo neste caso.