Resolução – Gincana dos Grupos de Estudo 2020

Rodada 1.

Contribuição: Lorena Gabriela Rocha Ribeiro (Universidade Federal de Sergipe, Aracaju/SE) 

Cão, 5 anos de idade.

  1. Tecido/órgão: Testículo
  2. Quais lesões secundárias podem ocorrer em consequência deste processo? Explique a patogenia. Degeneração testicular, granuloma espermático, edema escrotal. A inflamação testicular pode estar associada a estes dois processos, o primeiro em consequência do aumento da temperatura e o segundo em decorrência da obstrução dos túbulos, com aumento da pressão e ruptura, com liberação de espermatozoides. O edema escrotal pode ocorrer devido aumento na quantidade de fluido associado à albugínea testicular com as alterações hemodinâmicas associadas. 
  3. Cite as principais causas/agentes etiológicos que podem estar associados com a lesão observada, nessa espécie: Brucella canis, Escherichia coli e Proteus spp.
  4. Qual(is) alteração(ões) hemodinâmica(s) ocorre(m) neste quadro e por quê? Hiperemia e edema, associados com aumento da pressão hidrostática devido hiperemia ativa relacionada com inflamação.
  5. As células predominantes associadas com a alteração indicam qual tipo específico de processo patológico: Processo inflamatório crônico, supurativo/piogranulomatoso

Rodada 2.

Contribuição: Daniela Bernadete Rozza (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Unesp, Araçatuba/SP) 

Bovino, 1 mês de idade.

  1. Descrição da lesão macroscópica, informando órgão(s): Rins com áreas amareladas a esbranquiçadas, irregulares, multifocais
  2. Explique a patogenia do quadro. Em situações de endocardites bacterianas, pneumonias bacterianas, meningites bacterianas, flebites bacterianas, etc. No caso em questão, dada idade do animal, e´necessário verificar eventual relação com onfalite. Bactérias migram por via hematógena, com embolização causando as alterações uma vez que tem acesso e se instalam no tecido renal
  3. Cite as principais causas/agentes etiológicos que podem estar associados com a lesão observada, nessa espécie: Truperella pyogenes, Staphylococcus spp., Streptococcus spp. e Escherichia coli
  4. Qual(is) alteração(ões) hemodinâmica(s) ocorre(m) neste quadro e por quê? Embolia - migração bacteriana por via hematógena; hiperemia ativa - processo inflamatório consequente da infecção bacteriana; edema - aumento de pressão hidrostática local; eventual hemorragia, dado processo de supuração e heterólise local
  5. Diagnóstico: Nefrite/glomerulonefrite embólica supurativa

Rodada 3.

Contribuição: Juliana da Silva Leite (Universidade Federal Fluminense - UFF, Niteroi/RJ) 

Cão, 3 anos de idade.

  1. Descrição microscópica, informando órgão(s): Mucosa/transição mucosa-pele. Erosão, acantose leve e paraqueratose. Na derme superficial e profunda, havia infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear, difuso, composto por macrófagos, plasmócitos, linfócitos e neutrófilos. Formas amastigotas são observadas dentro e fora dos macrófagos.
  2. Diagnóstico morfológico. Processo inflamatório crônico granulomatoso (Processo linfohistioplasmocitário focalmente extenso, crônico, associado com microorganismos intracitoplasmáticos em fagócitos compatíveis com Leishmania spp).
  3. Cite o(s) principal(is) agente(s) etiológico(s) que podem estar associados com o diagnóstico morfológico observado, nessa espécie: Leishmania spp., Histoplasmaspp. Em casos de ausência de observação dos micro-organismos, outros diferenciais podem ser considerados, como infecção por Mycobacterium spp.
  4. Qual(is) eventual(is) coloração(ões) histoquímica(s) é (são) útil(eis) para auxiliar na confirmação diagnóstica? E de que forma elas auxiliam/qual seu perfil de coloração? A coloração Giemsa revela formas amastigotas em azul purpúreo no citoplasma de macrófagos. A coloração prata metanamina de Grocott e a coloração PAS (periodic–acid Schiff - ácido periódico de Schiff) podem ser usadas para descartar a etiologia fúngica. O uso da coloração Ziehl–Neelsen identifica bacilos álcool-ácido-resitentes no interior dos macrófagos e pode colaborar especialmente nos casos onde não são observadas formas amastigotas ou em quantidade mínima, podendo ser usada para descartar  micobacteriose.
  5. Diagnóstico: Leishmaniose

Rodada 4.

Contribuição: Francisco de Assis Leite Souza (Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, Recife/PE) 

Cão, 11 meses de idade.

  1. Descrição da lesão microscópica, informando órgão(s) e diagnóstico: Pele pilosa com acantose moderada e derme superficial e profunda apresentando áreas com material amorfo basofílico granular e fragmentado, multifocal a coalescente, compatível com áreas de mineralização. Observa-se infiltrado inflamatório crônico histiocitário, com presença acentuada de macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas. Visualiza-se, ainda, fibrose multifocal e fibroplasia. Diagnóstico: Calcinose cutâneo (Calcinose cutis).
  2. Explique a patogenia do quadro:  A mineralização corresponde à deposição de sais minerais inorgânicos insolúveis na derme, epiderme ou subcutâneo e podem ocorrer por processos
    distróficos ou metastáticos, a calcificação distrófica é secundária ao dano mitocondrial e a liberação de cálcio armazenado na mitocôndria levando a um aumento dos níveis intracelulares de cálcio, que após a destruição celular se depositam no meio extracelular atraídos pela matriz orgânica se associando as fibras de colágeno e elastina. Geralmente os processos de calcificação distrófica ocorrem em áreas de atrito como pescoço, flanco e orelhas. A calcificação metastática surge de hipercalcemia (elevação dos níveis séricos de sangue) que acaba se depositando em locais do organismo mesmo sem lesões prévias.
  3. Cite as principais causas que podem estar associadas com a lesão observada, nessa espécie: Hiperadrenocorticismo, iatrogênico ou espontâneo, por adenoma de hipófise secretor de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), adenoma funcional do córtex da adrenal. Pode ser observado, também, como resposta secundária à pontos de pressão e injeções subcutâneas de material reativo.
  4. Qual(is) componente(s) inflamatório(s) é (são) esperado(s) nesse quadro e por quê? Infiltrado inflamatório predominantemente de macrófagos, macrófagos epitelioides e células gigantes multinucleadas do tipo corpo estranho. Essas células estão presentes nesse caso por se tratar se uma reação crônica granulomatosa do tipo corpo estranho em resposta ao mineral depositado.
  5. Qual(is) eventual(is) coloração (ões) histoquímica(s) é (são) útil(eis)para auxiliar na confirmação diagnóstica? Von Kossa: para corar cálcio, sais de prata são reduzidos para prata metálica negra pelo uso de luz ou de um revelador fotográfico, obtendo-se, no final, os sais de cálcio de cor preta; Vermelho de alizarina: áreas calcificadas coradas em vermelho, interação com osteoblastos em diferenciação, com formação de um complexo alizarina-cálcio-alumínio que permite a formação da coloração.

Rodada 5.

Contribuição: Gabriel Domingos Carvalho (Instituto Federal do Espírito Santo - IFES, Piúma/ES) 

Tartaruga verde (Chelonia mydas), juvenil.

  1. Descrição da lesão macroscópica, informando regiões do mesmo: Esôfago - perda de papilas mucosas cornificadas associadas com áreas hiperêmicas circulares, hemorragia e ulcerações multifocais; região gastroesofágica com áreas multifocais a coalescentes hiperêmicas, hemorragia multifocal e ulceração focalmente extensa a multifocal, brilhate (edemaciado).
  2. Qual(is) alteração(ões) hemodinâmica(s) observada(s) neste quadro e por quê? Hiperemia discreta difusa da porção final do esôfago em resposta ao processo inflamatório da lesão caseosa e presença de ovos de helmintos.
  3. Qual o tipo de agente causal associado apresentando (especificando filo e classe): Neste caso, é possível identificar parasitas do filo Plathyhelmintes, pertencentes à classe Trematoda (Digenea). Por curiosidade, na análise do conteúdo fecal foi caracterizada a espécie Poliangium linguatula.
  4. Qual(is) característica(s) microscópica(s) permite(m) tal determinação? Helminto com corpo chato, não segmentado, presença de estruturas de fixação/ventosa e espículas.
  5. Diagnóstico: Gastrite hemorrágica multifocal associada com presença de parasitas helmintos da classe Trematoda.

Rodada 6.

Contribuição: Ana Carolina Ortegal (Universidade José do Rosário Vellano - Unifenas, Alfenas/MG) 

Cão, 8 anos de idade

  1. Descrição da lesão macroscópica, informando órgão e diagnóstico: Baço: Avaliação histopatológica de baço revela hiperplasia difusa e coalescente de polpa branca. Há aumento da celularidade na polpa vermelha, principalmente por histiocitose acentuada associada a discreta plasmocitose. Os histiócitos frequentemente estão repletos de hemossiderina (hemossiderose) e é possível observar eritrofagocitose. Observa-se hematopoiese extramedular discreta a moderada, principalmente da linhagem eritropoiética, mas também há células da linhagem megacariocítica (raras) e mieloide, em especial precursores de neutrófilos. Diagnóstico: Hemólise extravascular; Hemossiderose; Hematopoiese extramedular.
  2. Explique a patogenia do quadro. O animal apresenta algum quadro que desencadeia eritrofagocitose acentuada (hemólise extramedular) e devido à acentuada destruição de hemácias há consequente hemossiderose esplênica. Devido à hemólise, o animal pode desenvolver um quadro de anemia e, portanto, há tendência em ocorrer acentuada eritropoiese medular, mas também certo grau de hematopoiese extramedular, sendo o baço o principal sítio. A hemossiderose acentuada normalmente está associada a hemólise subaguda ou crônica.
  3. Cite as principais causas que podem estar associadas com a lesão observada, nessa espécie: A hemólise pode ocorrer de forma intra e extravascular. Neste caso observamos hemólise extravascular, evidenciada pela eritrofagocitose. Doenças que cursam com hemólise extravascular no cão podem ter etiologia infecciosa e não infecciosa. Dentre as causas de hemólise extravascular infecciosa mais frequentes se pode citar Babesiose (que também cursa com hemólise intravascular – a hemólise extravascular observada na Babesiose canina provavelmente é imunomediada) – Babesia canis; Babesia gibsoni; Rangeliose (principalmente no Sul do Brasil) – Rangelia vitalli; dentre as causas não infecciosas, a principal causa de anemia hemolítica extravascular é a imunomediada, que muitas vezes é idiopática mas que pode ocorrer de forma secundária a alguns agentes infecciosos (como no caso da Babesiose e em alguns relatos de Erliquiose, apesar de geralmente raro) e também ao contato com alguns fármacos. Outra condição que pode apresentar achados semelhantes seria o Hiperesplenismo, no qual ocorre metaplasia mieloide e histiocitose com eritrofagocitose e por fim formação de hemossiderina, levando a anemia por “sequestro”.
  4. Qual(is) eventual(is) coloração (ões) histoquímica(s) é (são) útil (eis) para auxiliar na avaliação diagnostica de alterações observadas nesta amostra? Informe sua base química de interação/afinidade: Para evidenciar a hemossiderina, a Coloração/Técnica/Reação de Perls ou Reação de Azul da Prússia.  Esta técnica se baseia na utilização de uma solução ácida a base de ácido clorídrico e ferrocianeto de potássio que, ao ter contato com o ferro trivalente, forma o ferrocianeto férrico, de coloração azul escuro (azul da prússia). A contracoloração com Safranina permite a visualização dos núcleos em vermelho. Em caso de suspeita de Babesiose, as colorações de Azul de Toluidina e Azul de Metileno permitem a boa visualização da Babesia spp. no interior dos eritrócitos. O Azul de Toluidina cora os eritrócitos em amarelo-esverdeado e e os protozoários em azul escuro. O Azul de Metileno cora as hemácias em azul-esverdeado e deixa os parasitas em coloração azul escuro.
  5. Qual(is) o(s) principal(is) diferencial(is) microscópico? Quais características microscópicas podem auxiliar na diferenciação e quais técnica(s) pode(m) auxiliar na diferenciação? Para técnica(s), explique seu mecanismo e como permite a diferenciação: A hemossiderina pode ser “confundida” com outros pigmentos amarronzados, como por exemplo a melanina. Isso coloca a metástase de melanoma como um possível diagnóstico diferencial (ao levar em consideração somente o pigmento amarronzado). Portanto, a reação de Azul da Prússia (explicada acima) neste caso auxilia no diagnóstico definitivo da condição de hemossiderose. Técnicas de imuno-histoquímica podem auxiliar na identificação de possíveis agentes infecciosos e de células no baço, como por exemplo as células da linhagem histiocítica e células precursoras mieloides. Uma causa neoplásica que cursa com eritrofagocitose (hemólise) e pode apresentar hemossiderose é o Sarcoma Histiocítico Hemofagocítico. Nota-se, porém que os histiócitos são neoplásicos e células multinucleadas e vários critérios de malignidade normalmente são apresentados. A imuno-histoquímica é excelente ferramenta no diagnóstico definitivo neste caso.

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